sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Não conseguiu pagar a fatura do cartão? Veja o que pode acontecer



Fico com nome sujo ou sou processado por não pagar o cartão? Veja as regras



Thâmara Kaoru
Colaboração para o UOL, em São Paulo
  • iStock
Uma compra aqui, outra ali e no final do mês a fatura do cartão de crédito já não cabe mais no orçamento. Mas, o que acontece se você não fizer o pagamento?
Nos casos em que não há pagamento algum, o consumidor já está inadimplente no dia seguinte do vencimento da fatura, explica o coordenador do Núcleo de Apoio ao Superendividado do Procon-SP, Diógenes Donizete.
Ele conta que administradora de cartão pode definir a forma como vai agir com o cliente. Normalmente é contratada uma empresa terceirizada para fazer a cobrança. "Cada instituição adota uma política. Podem bloquear o cartão, retirar o pagamento mínimo, exigir o pagamento da fatura e dar um prazo para quitar a dívida", exemplificou.
Os clientes também já podem ir para o cadastro de inadimplentes. Em São Paulo, explica a advogada da Proteste Livia Coelho, há uma lei que determina que, antes de entrar para a lista de devedores, o consumidor deve ser avisado da situação por correspondência com aviso de recebimento (alguém tem de assinar que recebeu a carta).

Ação na Justiça


O advogado de direito civil Franco Mauro Russo Brugion explica que a instituição financeira também pode entrar com uma ação contra o cliente, mas primeiro, em geral, tenta negociar a dívida. "A dica é não aceitar a primeira proposta, mas ver quais parcelas cabem no bolso e esquecer o cartão de crédito", diz.Ação na Justiça

Quem fica com dívida no cartão, afirma Coelho, tem de pagar multa moratória de 2%, juros de mora de 1% ao mês e os juros do rotativo, que variam conforme a operadora de cartão. Segundo a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), a taxa média de juros do rotativo está em 441,8% ao ano.

Consumidor não fica inadimplente se pagar parcela mínima

Outra situação é pagar apenas o valor mínimo do cartão de crédito. Nesse caso, ele não fica inadimplente, mas entra no crédito rotativo. O valor que ele ficou devendo vai automaticamente para a fatura do mês seguinte.
Se acontecer isso, precisará arcar no mês seguinte com o valor restante da dívida, as outras despesas do mês e os juros do rotativo.
"O valor mínimo você paga para não ficar inadimplente. Mas, no mês seguinte, vai ter juros, vai somar com os gastos da fatura e aquilo vai virando uma bola de neve que fica praticamente impagável", afirma o advogado de Direito Cível Gustavo Milaré.

Novas regras

Para ajudar a frear o superendividamento, o governo determinou mudanças nas regras de pagamento do cartão.
A partir de 3 de abril, o consumidor só poderá usar o crédito rotativo por 30 dias. Depois desse prazo, o banco terá que entrar em contato e perguntar se o cliente quer parcelar o valor ou pagá-lo à vista. Se não escolher nenhuma opção, torna-se inadimplente.
"Não acredito que a forma de cobrança vai mudar. Após os 30 dias, o banco vai falar que não pode mais rodar a dívida. O cliente vai ter que pagar ou estipular uma forma de quitação parcelada. É como se entrasse em um financiamento. Você vai trocar aquela dívida por uma série de parcelas. Cada instituição pode definir a forma como vai cobrar o cliente", declara Milaré.

TRANSFERIR DÍVIDAS PARA BANCOS COM JUROS MENORES PODE SER A SAÍDA.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

FIM DO MUNDO. Os abrigos para o fim do mundo construídos para os super-ricos

Os abrigos para o fim do mundo construídos para os super-ricos

  • 1 fevereiro 2017
Entrada do Survival Condo, nos EUA
Image captionA entrada do bunker de Larry Hall no Kansas é guardada como uma instalação militar
O empresário americano Larry Hall sai do elevador e entra em um dos muitos apartamentos de seu recém-construído empreendimento imobiliário.
O espaço é mobiliado de maneira elegante. Hall diz que a qualidade do acabamento e a atenção aos detalhes têm de ser proporcionais à resposta entusiasmada de seus clientes.
"Tive clientes chorando de emoção quando visitaram", conta ele.
Mas há algo incomum nesses apartamentos. Eles estão muitos metros debaixo da terra, em um silo nuclear obsoleto, no meio do Estado americano do Kansas. Trata-se do Survival Condos. São bunkers de luxo para que, nas palavras de Hall, ricos e super-ricos possam não apenas se proteger em caso de uma hecatombe, mas dar prosseguimento a uma rotina bonne vivant.
"Queremos cuidar da proteção física, mas também do bem-estar mental das pessoas".
Entrada do bunker
Image captionLarry Hall investiu dezenas de milhões de dólares no condomínio de luxo
Quando alguém se refere a "preparados", pessoas (americanas, sobretudo) que investem tempo e dinheiro tentando não serem pegas de surpresa por alguma catástrofe de proporções globais, a imagem clássica é a de indivíduos solitários, vivendo em condições austeras - pense em um indivíduo usando roupas camufladas e enchendo um porão com enlatados.
O medo do apocalipse, porém, parece estar chegado às classes mais altas. Pelo menos a julgar por uma série de empreendimentos nos EUA e na Europa voltados a oferecer para super-ricos uma "chance de escapar do fim do mundo". A companhia americana Vivos, por exemplo, especializou-se em adaptar abrigos nucleares subterrâneos da época da Guerra Fria para as necessidades de consumidores em busca de sobrevivência com requinte.
Na Alemanha, a Vivos conta com o Europa One, aproveitando um bunker escavado no interior de uma montanha, que durante a Guerra Fria serviu de depósito de armas e munições do exército soviético. Em vez da aparência austera de instalação militar, o lugar agora conta com 34 aposentos que, segundo a empresa, oferecem proteção contra uma variedade de catástrofes (de desastres nucleares a terremotos). E sem perder o estilo.
Cada aposento tem 2.500m2 de área e poderá ser customizado pelos ocupantes. Nas áreas comuns, haverá desde um festival de mimos como bares, restaurantes e canis a serviços como hospital, transporte e segurança. O preço é guardado a sete chaves, até porque os futuros ocupantes serão selecionados através de convites.
A Survival Condo, também aproveitou um resquício dos tempos em que americanos e russos temiam um holocausto nuclear, e a demanda por "preparados" mais endinheirados.
Embora promova o luxo das instalações de seu prédio de 15 andares, o grande chamariz da Survival Condo para seu condomínio de luxo é a robusteza do prédio, incluindo a redoma da cobertura, resistente a ventos de mais 800km/h, de acordo com a brochura eletrônica no site da empresa.
Quando Hall anunciou o empreendimento, o preço dos apartamentos começava em cerca de R$ 4,5 milhões. Ele diz ter vendido 11 dos 12 apartamentos postos à venda - isso porque uma das unidades é para ele e sua família.
Larry Hall, idealizador do Survival Condo
Image captionLarry Hall, idealizador do Survival Condo
"Muitos clientes não querem que os outros saibam que eles têm um bunker, pois pode provocar a mesma reação do que alguém dizer que viu um disco voador", explica o investidor.
Um dos compradores, porém, falou à New Yorker. O empreendedor imobiliário Tyler Allen pagou US$ 3 milhões por um dos apartamentos. Teme conflitos sociais nos EUA e mesmo um surto do vírus Ebola. "Podem me chamar de maluco, mas estou tomando providências para proteger minha família".
Os ataques de 11 de setembro foram uma tragédia em que Hall enxergou uma oportunidade de negócios. Na época da tragédia, ele era um empreendedor digital e diversas empresas buscaram soluções para salvar seus dados em caso de ataque. Hall teve a ideia de criar um centro de processamento de dados que resistisse a ataques nucleares.
Interior de um dos apartamentos do Survival Condo
Image captionInterior de um dos apartamentos do Survival Condo
Clientes em potencial mostraram interesse pela ideia, que Hall logo ampliou para abrigos para seres humanos. A instalação no Kansas, desativada nos anos 60, era uma escolha óbvia diante do fato de já vir com proteção contra ataques nucleares, algo bastante cômodo diante dos custos assustadores de criação de um projeto do zero.
Interior de um dos apartamentos do Survival Condo
Image captionSuper-ricos criaram nova demanda para serviços "pós-apocalípticos"
Hall, segundo estimativas da mídia americana, gastou dezenas de milhões de dólares para equipar o complexo com tudo o que há de mais moderno em termos de conforto e segurança. O prédio, por exemplo, tem capacidade para sobreviver cinco anos sem contato com o mundo exterior.
E um exército particular é a garantia contra potenciais invasões - comunidades de "preparados" acusaram Hall de discriminação e prometeram insurgir contra o condomínio - a Vivos, por sinal, não se esqueceu deste mercado e conta com uma linha de bunkeres "populares", que podem ser instalados até em quintais (parecem mais contêineres que apartamentos de luxo, diga-se de passagem).
Piscina do bunker
Image captionEm vez de "contêiner reforçado", abrigos requintados contam com o luxo de uma piscina
Hall conta que clientes deixaram de ver os apartamentos apenas como uma espécie de "seguro de vida" e passaram a usar o complexo como residência de veraneio.
Steve Huffman, o fundador do site Reddit
Image captionSteve Huffman quer precisar apenas de óculos escuros em caso de emergência
Para os mais claustrofóbicos, uma opção parece ser manter distância dos principais centros de poder. Segundo a New Yorker, super-ricos americanos estão investindo na aquisição de terras na Nova Zelândia e mais de 13 mil cidadãos do país declararam interesse de emigrar junto às autoridade neozelandesas desde a eleição de Donald Trump, como parte de um programa de vistos de residência para investimentos mínimos de US$ 1 milhão. O país é geograficamente isolado o suficiente para acalmar os nervos de quem teme tempos turbulentos.

E outra medida de que super-ricos também contemplam o fim do mundo é que, na mesma reportagem da revista americana, o milionário Steve Huffman, fundador da rede social Reddit, conta ter feito uma cirurgia ocular corretora para sua miopia, em 2015, não por uma questão de estética our praticidade. Huffman crê que uma visão melhor calibrada lhe dará mais chance de sobreviver ao terror.
"Se o mundo acabar ou tivermos problemas sérios, conseguir óculos ou lentes de contato será um senhor problema".

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese